O “Velho” nasce em 1937 numa cidadezinha do interior de Pernambuco. Ele é o primeiro filho de um casal muito simples. Eles moram numa casinha de pau-a-pique pequena, a qual com o passar do tempo, à medida que a família cresce fica cada vez mais difícil de acomodar todos os moradores. Seus pais são analfabetos, mas têm o discernimento suficiente para notar a importância de saber ler e escrever, mesmo que seja o próprio nome. Por isso, logo colocam o “Velho” na escola. Esta fica muito distante de sua casa. O “Velho” tem que andar – usa chinelos de borracha que já não são suficientes para acomodar os pés do menino, pois as condições financeiras não permitem nem a compra de novos chinelos e muito menos de sapatos - cerca de uma hora até chegar a um lugar, onde há várias crianças a espera de um antigo ônibus escolar fretado pela própria escola. A maior parte das viagens, muitas crianças ficam de pé, pois o número de assentos é insuficiente para a quantidade de crianças.
Depois da longa jornada de volta da escola, o “Velho” ainda tem que ajudar seu pai a colher as poucas verduras que resistiram ao forte calor da região. Uma parte da produção é destinada à subsistência da família e a outra seu pai vende numa vila próxima a Recife, a fim de comprar outros alimentos que a terra não é capaz de dar. Mais tarde o “Velho” ainda tem que ajudar mãe a descascar mandioca para que ela possa preparar a farinha que também será vendida. O “Velho” estuda até a sexta série do ensino fundamental. Ele não consegue dar continuidade aos estudos, porque enquanto estava na escola, ficava pensando na solução que seus pais encontrariam para alimentar seus nove irmãos. A terra, que antes produzia pouco, passa a produzir quase nada. No solo, somente rachaduras podem ser vistas e em casa muitas crianças a espera de algo para comer.
Por isso aos quinze anos de idade, o “Velho” sente-se no dever de ajudar sua família mudando-se para uma fazenda em Recife, onde ele começa cortar cana. O “Velho” corta toneladas de cana por dia sob um sol escaldante e o que ganha em troca é um prato de comida, o direito de dormir no chão de um galpão cheio de quinquilharias; além de algumas poucas moedas que o patrão dá apenas como estímulo aos trabalhadores. No entanto, são essas moedas que ajudam a sustentar seus pais e alguns de seus irmãos que ainda estão vivos. Aos dezoito anos de idade, o “Velho” volta para casa e encontra seus pais aparentando ter muito mais idade do que realmente têm. Seus irmãos mais novos ajudam a limpar alguns móveis que estão enlameados devido à última intensa temporada de chuva que alagou toda a região. Contudo, isso ainda é motivo de alegria para a família, pois eles podiam recomeçar a plantar até a próxima época de seca. Porém o “Velho” não se fixa novamente naquele lugar. Ele comunica à família que irá para São Paulo, pois ele ouviu dizer que nessa cidade tudo é mais fácil e o que não falta é oportunidade de trabalho. No outro dia, ele pega o primeiro pau-de-arara e inicia sua saga rumo à grande metrópole. Ao chegar lá fica fascinado com a grandeza da cidade e logo pensa que ali tudo será mais fácil. No entanto não é preciso muito tempo para que o “Velho” pudesse se decepcionar, pois ao procurar emprego nas fábricas da cidade, sempre era mal recebido por não ter experiência e por ser nordestino. Ele fica
Contudo, após andar por vários dias, ao chegar ao norte de Minas Gerais na divisa com o Estado da Bahia, seus planos sofrem alterações. Ele encontra uma pequena fazenda onde mora um casal com uma filha de dezoito anos de idade. O “Velho” começa a morar e trabalhar ali e uma parte do que ganha manda para sua família
O “Velho” mostra-se resignado com sua condição de vida, mas não se deixa abater a espera de algo melhor para sua família. Mesmo com a idade já avançada, ele acorda todos os dias bem cedo e demonstra grande capacidade em preparar a terra para o plantio. Seu neto o tem como exemplo, pois o pai do menino é um pouco embrutecido pelas situações que ele vivencia no campo e acredita que sentimentalismos podem levar o filho a tomá-lo como exemplo, induzindo-o a fixar-se ali. No entanto o “Velho” não concorda com a posição do pai do menino e permite que ele se aproxime e tente realizar seu ofício. Apesar da vida difícil que o “Velho” sempre teve desde seu nascimento, ele não se tornou um homem amargurado, ranzinza e inacessível; pelo contrário, sempre procura ajudar a família e a alimentar a esperança do neto ao mostra-lhe que a vida é mutável e surpreendente.
MARIDO
O Marido é um homem de aproximadamente 38 anos, que nasceu e sempre viveu no Norte de Minas, na região do Vale do Jequitinhonha. Aparenta ter mais idade, devido a sua pele ser bem castigada pelo sol. Tem uma expressão meio triste e cansada, pelas preocupações que tem no dia-a-dia. É magro e esguio, com as veias bem aparentes, principalmente no pescoço e nas mãos, e estas são bem fortes e calejadas. Tem muita habilidade na “lida”, pois desde pequeno já trabalhava na roça com seu pai.
Pai de família nato luta bravamente para que ela sobreviva. Teve dois filhos homens, com diferença de três anos entre eles. Tinham um ótimo relacionamento, os três brincavam e os filhos o ajudavam em tudo que era possível.
Quando o mais velho tinha sete anos de idade, ajudava seu pai nos afazeres da roça quando sofreu um grave acidente, e acabou falecendo alguns dias depois. Seu pai se sentiu de certa forma culpado pelo acontecido e foi se fechando mais. Ficou mais calado, mais triste, mais introspectivo. Acabou se afastando do seu filho mais novo. De certa forma com medo de que o acontecido com seu filho mais velho se repetisse. Não quer que seu filho siga a mesma vida que ele, mas como não tem estudo algum, não sabe como ajudá-lo, o que o afasta ainda mais do filho.
Desde então trabalha pesado na roça, ajudado pelo sogro. Cuida principalmente da plantação de mandioca e com habilidade a arranca do chão. Tem as costas um pouco curvadas, pelo trabalho pesado e também pelas preocupações que carrega. Tem os braços finos e veste uma camisa surrada com os botões da gola abertos. Veste calças compridas que vem até a canela e usa somente chinelos de dedo. Tem o cabelo escuro e bem curto, com certas “entradas” na testa. Gosta de usar um velho chapéu de nordestino para se proteger do sol, mas está sempre o tirando para limpar o suor da testa. Tem o rosto bem enrugado e envelhecido, com um típico bigode.
Tem muita saudade do tempo que a vida naquele lugar era mais fácil, a terra mais fértil e ele mais feliz. Mas ainda tem esperança de que as chuvas irão trazer de volta a vida e a alegria àquele lugar.
Cláudio Valarse
MULHER
A Mulher tem uma idade aparente de quarenta anos, mas na verdade possui apenas trinta e dois. Tem a pele marcada pelo calor do sol e a face com uma constante expressão de cansaço devido à excessiva quantidade de trabalho. As costas encurvadas pelo peso da lata de água que carrega todos os dias, apesar da gravidez já avançada. Os braços e pernas finas são fortes o suficiente para que consiga realizar todos os trabalhos da casa.
Nascida na região Norte de Minas, nunca conheceu outro lugar. É filha do Velho e sua mãe morreu quando a teve, nesta época a seca já era muita.
Seu marido é um homem que está perdendo as esperanças de rever o sertão como era nos tempos de seus pais.
Ainda resta um pouco de esperança em sua vida. Tem um filho de cinco anos e está grávida do terceiro filho. Seu primogênito morreu após um acidente enquanto trabalhava com seu pai e avô na roça.
Espera que a situação melhore para que seus filhos possam crescer em um lugar parecido com o que seus pais encontraram quando mudaram para aquela região.
Fátima Telles
MENINO
O Menino, de cinco anos de idade, vive com seus pais e avô no sertão, onde tudo é muito escasso e a sobrevivência é sofrida.
Tímido, não tem o quê nem com quem falar diante dos rostos sérios de seus familiares. Tem como companhia apenas seus pensamentos e brinquedos.
Observador, o Menino acompanha todos os passos de sua mãe na cozinha e na arrumação da casa, passa muito tempo também observando o trabalho de seu pai e do avô no plantio.
Seu dia a dia se resume a uma rotina. Acorda, toma o café da manhã escasso, brinca com seus bonecos de pano e outros objetos reaproveitados. Ajuda a mãe em seus afazeres, mas a maior parte do tempo fica observando seu pai e o avô trabalhando e tenta ajudá-los. Ao anoitecer janta, brinca mais um pouco, sozinho, e vai dormir.
Sonha com dias melhores ao ouvir velhas histórias de seu avô na época em que a terra prosperava. Seu modelo paterno é o avô, já que este é muito mais flexível e está disposto a passar seus conhecimentos à nova geração, o pai, mais realista, fica mais distante, fazendo apenas o necessário para a sobrevivência de sua família.
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